É portanto antiga, mas vale apena voltar a ler, principalmente por se tratar de uma entrevista feita com o nosso saudoso EDUARDO SILVA. Quem se lembra dêle ?
Foi meu professor e quem me abriu o caminho para a vida profissional.
À PORTA DO NASCIMENTO
Por António Carreira
"...Centro de cavaco, por excelência, cá do burgo, é, como todos sabem, a casa do nosso estimado amigo Manuel Henriques dos Santos Nascimento. Quem quiser saber uma notícia fresquinha ou uma novidade sensacional, tem de ir ao Nascimento..."
EDUARDO SILVA : 100 ANOS
Quem em Castanheira de Pêra não conhece Eduardo Silva?
Quem não lhe reconhece o valor consentido ao longo dos anos em prol do concelho? Uma opinião unânime acalenta a verdade deste homem. Por isso mesmo estivemos junto dele para que nos contasse um pouco da sua vida, a maioria da qual passada em Castanheira.
Somos convidados a entrar e a tomar um aperitivo. Mas alguém que nada queria tomar bebeu mesmo um "nada", uma agradável mistura para os mais relutantes.
É assim que começa a entrevista conduzida por Paulo Marçal, actualmente Director do Expresso do Centro e anteriormente d’ A Comarca, no já longínquo ano de 1987, e que hoje transcrevemos parcialmente, no âmbito da evocação do centenário do nascimento de Eduardo Silva, um dos fundadores deste jornal em 1937, conjuntamente com o Dr. José Fernandes de Carvalho.
Eduardo Silva contava então 86 anos e a entrevista era publicada n’ O Castanheirense nº 1671, de Janeiro de 1987, o número do cinquentenário do jornal.
A entrevista continuava com o Curriculum académico e profissional do entrevistado, nomeadamente a sua passagem pelo Brasil:
...E é no Brasil que contacta os primeiros Castanheirenses que foram o Visconde de Nova Granada, Adrião Reis e João Alves Cepas.
Ainda no Brasil é convidado a integrar a Direcção do CENTRO REPUBLICANO PORTUGUÊS, que lhe viria a proporcionar o contacto com pessoas influentes. E é neste ambiente que Eduardo Silva é convidado para Correspondente e Agente da importante revista PORTUGAL pelo seu Director, o Comendador Oliveira Guimarães e pelo escritor Rui Chiança.
Numa forma de dar a conhecer a estima e respeito que Eduardo Silva gozava, transcrevemos parte de uma carta que lhe foi dirigida pelo então director da REVISTA PORTUGAL:
"Parece-me, que não há melhor forma de pagamento para tão relevantes serviços como aqueles que o amigo nos vem prestando, que hypothecar-Ihe a minha gratidão e de todos d’esta casa.
As outras formas que julgo de menos valimento, como sejam os nossos humildes serviços, desde o primeiro dia que tive o prazer de o conhecer estão ao seu inteiro dispôr. Se todos os Portuguezes, tivessem como o amigo, esse sagrado amôr por Portugal, a nossa querida pátria seria de tão pequenina que é, a maior grandeza da terra."...
E a entrevista continua até que se chega ao ponto da sua vinda para Castanheira de Pêra:
...Embora não sendo natural desta Vila, considera-a como sua e por ela se tem dedicado como um verdadeiro castanheirense.
A sua actividade em prol dos interesses desta terra e concelho tem sido notável e, de momento, lembra-nos que já desempenhou aqui as seguintes funções:
Presidente da Junta de Freguesia de Castanheira de Pêra, ... fundador da Casa do Povo de Castanheira de Pêra que, em virtude da região ser mais industrial que agrícola, deu lugar ao Sindicato Nacional do Pessoal da Indústria de Lanifícios do Distrito de Leiria, um dos primeiros do Distrito...Quando dirigente do Sindicato promoveu a constituição em Castanheira de Pêra de um Centro de Alegria no Trabalho o qual criou um Grupo Cénico e um Grupo de Futebol...durante mais de 12 anos, como Mesário da Santa Casa da Misericórdia, organizou os seus serviços administrativos... ...Cerca de 1928, com mais dois outros indivíduos estranhos à Terra, e o valioso auxílio moral e material do considerado industrial que foi o Senhor Manuel Antunes Ceppas, tomaram a iniciativa da constituição de uma Comissão de que fizeram parte, o Senhor Ceppas como Presidente e os restantes como colabores, sendo além de Eduardo Silva, mais António Máximo Sequeira e Adelino Henriques Gaspar dos Santos, ... que levou a efeito a construção do edifício próprio para o então Grémio Castanheirense mais tarde Clube Castanheirense, que trouxe a Castanheira de Pêra uma era nova de cultura e recreio através do Grupo Cénico e Cinema próprios além de outras diversões...reorganizou a Filarmónica Castanheirense... À Casa da Criança Rainha D. Leonor, da Fundação Bissaya Barreto, tem prestado o melhor do seu esforço.
Da sua actividade jornalística:
... sabemos que desde moço prestou a sua colaboração a alguns jornais já extintos como a "Gazeta de Coimbra", que chegou a ser diário e a "Voz da Justiça", da Figueira da Foz, ambos já extintos... jornais diários e periódicos e entre eles lembra-nos os seguintes: Diário de Coimbra, Diário da Manhã, A Capital e O Mensageiro, de Leiria; A Comarca de Arganil, de Arganil; A Regeneração de Figueiró dos Vinhos, onde durante muito tempo, quando da Direcção do Dr. Simões Barreiros, nela mantinha uma página de Castanheira de Pêra. sob o título: DAQUEM TRAVIM.
No extinto jornal da Lousã, A Voz da Comarca. enquanto existiu. manteve nele uma página de Castanheira de Pêra, também.
...Por sua iniciativa, em 1 de Janeiro de 1937, sai o primeiro número de "O Castanheirense", tendo a ideia de fundação deste jornal ter sido motivada peja instalação nesta Vila das oficinas Gráficas da Ribeira de Pêra.
Para Director de "0 Castanheirense" de então, foi convidado um castanheirense de certo prestígio local nessa altura, o Senhor Dr. José Fernandes de Carvalho que durante alguns anos foi seu brilhante colaborador.
Mais tarde Eduardo Silva, junta as suas funções de Administrador às de Director que conservou até à cedência que fez aos actuais proprietários.
Nos últimos anos, a sua "carolice" pelo Jornal que fundou e pelos assuntos de Castanheira de Pêra que considera como sua terra, tem-Ihe merecido o sempre notável interesse e carinho e ao jornal tem procurado dar um aspecto mais actualizado, sem sair das bases para que foi criado como Jornal Regionalista e Cultural, defendendo os interesses concelhios, regionais e nacionais até, dentro da sua acção e possibilidades.
E terminava com este carta, bem reveladora do carinho que Eduardo Silva dispensava ao jornal que dirigia:
...E tal foi o amor à terra e ao jornal, que publicamos a seguir uma carta dirigida à Câmara, em 15 de Fevereiro de 1973 quando o jornal corria o risco de ser extinto.
"15 de Fevereiro de 1973
Chega ao meu conhecimento de que se pretende vender a tipografia das OFICINAS GRÁFICAS DE RIBEIRA DE PÊRA, por motivos de ordem pessoal e, com ela, o jornal "O CASTANHEIRENSE".
O facto de ser eu a vir trazer este assunto à apreciação daqueles que, presentemente, podem e devem representar os interesses válidos deste concelho, tem unicamente por motivo o reconhecer que quer a Tipografia, quer o Jornal, representam algo de vitalidade para este concelho.
Dentro deste mesmo pensamento já eu, há distantes 36 anos, tomei a iniciativa da fundação de "O Castanheirense" e, conquanto não seja castanheirense por nascimento sou-o por amor à Terra, como o tenho demonstrado nos diversos actos da minha vida desde 1925, aqui praticado em prol dos interesses de Castanheira de Pêra.
Em determinada altura, vendi o Jornal sem contudo dele me desligar em absoluto, até que há meia dúzia de anos atrás fui convidado para nova e mais intensamente a ele me dedicar o que tenho vindo a fazer desinteressadamente e por mera "carolice".
Nem sempre compreendido, não tenho desanimado, e antes procuro seguir sempre em frente, conforme os ditames da minha consciência, sem estar acorrentado a quem quer que seja.
Agora, ao ter conhecimento da possível desaparição quer da Tipografia, mas muito especialmente do Jornal, senti algo que me entristece e, por tal motivo, o vir chamar para o facto a atenção daqueles que, em nome de Castanheira de Pêra, poderão promover uma solução para o assunto, evitando que tais factores de vitalidade local, deixem de existir, se é que reconhecem que isso não seria recomendável.
Pela minha parte se de algum modo puder continuar a seu útil a "O CASTANHEIRENSE" e, consequentemente a Castanheira de Pêra, podem contar com a minha inteira colaboração."
Significativo, comovente e ... ACTUAL!
Ainda no Brasil é convidado a integrar a Direcção do CENTRO REPUBLICANO PORTUGUÊS, que lhe viria a proporcionar o contacto com pessoas influentes. E é neste ambiente que Eduardo Silva é convidado para Correspondente e Agente da importante revista PORTUGAL pelo seu Director, o Comendador Oliveira Guimarães e pelo escritor Rui Chiança.
Numa forma de dar a conhecer a estima e respeito que Eduardo Silva gozava, transcrevemos parte de uma carta que lhe foi dirigida pelo então director da REVISTA PORTUGAL:
"Parece-me, que não há melhor forma de pagamento para tão relevantes serviços como aqueles que o amigo nos vem prestando, que hypothecar-Ihe a minha gratidão e de todos d’esta casa.
As outras formas que julgo de menos valimento, como sejam os nossos humildes serviços, desde o primeiro dia que tive o prazer de o conhecer estão ao seu inteiro dispôr. Se todos os Portuguezes, tivessem como o amigo, esse sagrado amôr por Portugal, a nossa querida pátria seria de tão pequenina que é, a maior grandeza da terra."...
E a entrevista continua até que se chega ao ponto da sua vinda para Castanheira de Pêra:
...Embora não sendo natural desta Vila, considera-a como sua e por ela se tem dedicado como um verdadeiro castanheirense.
A sua actividade em prol dos interesses desta terra e concelho tem sido notável e, de momento, lembra-nos que já desempenhou aqui as seguintes funções:
Presidente da Junta de Freguesia de Castanheira de Pêra, ... fundador da Casa do Povo de Castanheira de Pêra que, em virtude da região ser mais industrial que agrícola, deu lugar ao Sindicato Nacional do Pessoal da Indústria de Lanifícios do Distrito de Leiria, um dos primeiros do Distrito...Quando dirigente do Sindicato promoveu a constituição em Castanheira de Pêra de um Centro de Alegria no Trabalho o qual criou um Grupo Cénico e um Grupo de Futebol...durante mais de 12 anos, como Mesário da Santa Casa da Misericórdia, organizou os seus serviços administrativos... ...Cerca de 1928, com mais dois outros indivíduos estranhos à Terra, e o valioso auxílio moral e material do considerado industrial que foi o Senhor Manuel Antunes Ceppas, tomaram a iniciativa da constituição de uma Comissão de que fizeram parte, o Senhor Ceppas como Presidente e os restantes como colabores, sendo além de Eduardo Silva, mais António Máximo Sequeira e Adelino Henriques Gaspar dos Santos, ... que levou a efeito a construção do edifício próprio para o então Grémio Castanheirense mais tarde Clube Castanheirense, que trouxe a Castanheira de Pêra uma era nova de cultura e recreio através do Grupo Cénico e Cinema próprios além de outras diversões...reorganizou a Filarmónica Castanheirense... À Casa da Criança Rainha D. Leonor, da Fundação Bissaya Barreto, tem prestado o melhor do seu esforço.
Da sua actividade jornalística:
... sabemos que desde moço prestou a sua colaboração a alguns jornais já extintos como a "Gazeta de Coimbra", que chegou a ser diário e a "Voz da Justiça", da Figueira da Foz, ambos já extintos... jornais diários e periódicos e entre eles lembra-nos os seguintes: Diário de Coimbra, Diário da Manhã, A Capital e O Mensageiro, de Leiria; A Comarca de Arganil, de Arganil; A Regeneração de Figueiró dos Vinhos, onde durante muito tempo, quando da Direcção do Dr. Simões Barreiros, nela mantinha uma página de Castanheira de Pêra. sob o título: DAQUEM TRAVIM.
No extinto jornal da Lousã, A Voz da Comarca. enquanto existiu. manteve nele uma página de Castanheira de Pêra, também.
...Por sua iniciativa, em 1 de Janeiro de 1937, sai o primeiro número de "O Castanheirense", tendo a ideia de fundação deste jornal ter sido motivada peja instalação nesta Vila das oficinas Gráficas da Ribeira de Pêra.
Para Director de "0 Castanheirense" de então, foi convidado um castanheirense de certo prestígio local nessa altura, o Senhor Dr. José Fernandes de Carvalho que durante alguns anos foi seu brilhante colaborador.
Mais tarde Eduardo Silva, junta as suas funções de Administrador às de Director que conservou até à cedência que fez aos actuais proprietários.
Nos últimos anos, a sua "carolice" pelo Jornal que fundou e pelos assuntos de Castanheira de Pêra que considera como sua terra, tem-Ihe merecido o sempre notável interesse e carinho e ao jornal tem procurado dar um aspecto mais actualizado, sem sair das bases para que foi criado como Jornal Regionalista e Cultural, defendendo os interesses concelhios, regionais e nacionais até, dentro da sua acção e possibilidades.
E terminava com este carta, bem reveladora do carinho que Eduardo Silva dispensava ao jornal que dirigia:
...E tal foi o amor à terra e ao jornal, que publicamos a seguir uma carta dirigida à Câmara, em 15 de Fevereiro de 1973 quando o jornal corria o risco de ser extinto.
"15 de Fevereiro de 1973
Chega ao meu conhecimento de que se pretende vender a tipografia das OFICINAS GRÁFICAS DE RIBEIRA DE PÊRA, por motivos de ordem pessoal e, com ela, o jornal "O CASTANHEIRENSE".
O facto de ser eu a vir trazer este assunto à apreciação daqueles que, presentemente, podem e devem representar os interesses válidos deste concelho, tem unicamente por motivo o reconhecer que quer a Tipografia, quer o Jornal, representam algo de vitalidade para este concelho.
Dentro deste mesmo pensamento já eu, há distantes 36 anos, tomei a iniciativa da fundação de "O Castanheirense" e, conquanto não seja castanheirense por nascimento sou-o por amor à Terra, como o tenho demonstrado nos diversos actos da minha vida desde 1925, aqui praticado em prol dos interesses de Castanheira de Pêra.
Em determinada altura, vendi o Jornal sem contudo dele me desligar em absoluto, até que há meia dúzia de anos atrás fui convidado para nova e mais intensamente a ele me dedicar o que tenho vindo a fazer desinteressadamente e por mera "carolice".
Nem sempre compreendido, não tenho desanimado, e antes procuro seguir sempre em frente, conforme os ditames da minha consciência, sem estar acorrentado a quem quer que seja.
Agora, ao ter conhecimento da possível desaparição quer da Tipografia, mas muito especialmente do Jornal, senti algo que me entristece e, por tal motivo, o vir chamar para o facto a atenção daqueles que, em nome de Castanheira de Pêra, poderão promover uma solução para o assunto, evitando que tais factores de vitalidade local, deixem de existir, se é que reconhecem que isso não seria recomendável.
Pela minha parte se de algum modo puder continuar a seu útil a "O CASTANHEIRENSE" e, consequentemente a Castanheira de Pêra, podem contar com a minha inteira colaboração."
Significativo, comovente e ... ACTUAL!
Um comentário:
É tão bom ver o meu Avô Eduardo Silva ser recordado com o apreço que eu, sua Neta, também lhe reconheço...Tenho muitas saudades dele!
Grata.
Isabel Perry da Câmara
(antigamente Isabel Mendes Silva Saraiva - a Belinha!)
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