E àqueles que, se Deus permitir, também um dia serão avós!
Netos são como heranças
Sem ter feito nada para isso.
De repente, lhe caem do céu...
Você os ganha sem merecer
O neto é, realmente,
o sangue do seu sangue,
filho do filho,
mais filho do que filho,
mesmo...
“Os netos são filhos com açúcar”
Cinqüenta anos, cinqüenta e cinco...
Você sente, obscuramente,
que o tempo passou
mais depressa do que esperava.
Não lhe incomoda envelhecer, é claro.
A velhice tem
suas alegrias,
as suas compensações
Todos dizem isso,
embora você, pessoalmente,
ainda não as tenha descoberto,
mas acredita
Todavia, também obscuramente,
sente que,
às vezes, lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Do tumulto da presença infantil ao seu redor.
Meu Deus, para onde foram as suas crianças?
Naqueles adultos cheios de problemas
que hoje são os filhos,
que têm sogro e sogra, cônjuge,
emprego, apartamento e prestações,
você não encontra de modo algum
as suas crianças perdidas
Sem dores, sem choros.
Aquela criancinha da qual você morria de saudades, chega. Símbolo ou penhor da mocidade perdida.
Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho,
é um Filho seu que lhe é devolvido.
E o espantoso é que todos lhe reconhecem
o seu direito de o amar com extravagância.
Ao contrário, causaria espanto, decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice.
São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
É quando vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre o olho e diz:"Vó ", que seu coração estala de felicidade, como pão no forno!
Autora:
Rachel de Queiroz - Jornalista e escritora
Nasceu em Fortaleza aos 17/11/1910
Faleceu no R.de Janeiro em o1/11/2003
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