O material abaixo está circulando na Internet, de onde obtive cópia.
Por se tratar de um assunto do momento, muito bem apresentado, decidi colocar neste BLOG.
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Joaquim
Amaro
Urbanização
Quinta João de Ourém, Lote 8- 2.º Direito
8700-132
Olhão
Exmo. Senhor
Doutor Miguel Macedo
Ministro da Administração
Interna
Praça do Comércio
1149-015
Lisboa
Registada c/ Aviso de Receção
Olhão,25/09/2012
Senhor Ministro,
Com os meus cumprimentos, dirijo-me a V. Excelência
verberando as suas recentes declarações que transcrevo:
“Portugal é um País com muitas cigarras e poucas
formigas”
Esta sua afirmação leva-me a concluir que o Senhor
Ministro por ignorância ou desconhecimento, não sabe interpretar o sentido da
fábula da cigarra e da formiga.
Eu explico:
As formigas são a maioria dos Portugueses que o Senhor
ofendeu com a sua infeliz afirmação, que trabalham (aqueles que têm trabalho) e
levam para casa uns míseros trocos para o sustento das suas famílias.
Para que o Senhor Ministro meça no futuro as suas
palavras, não resisto a contar-lhe a fábula como eu a conheço:
Aqui vai, nasci no longínquo ano de 1939 numa freguesia
rural do Alentejo.
Sou filho de um camponês que tinha mais cinco
descendentes, sendo eu o mais velho.
A formiga era o meu pai que trabalhava de sol a sol
(assim como uma grande parte dos portugueses).
Ouso perguntar-lhe: O Senhor Ministro alguma vez na sua
vida ouviu cantar o galo? Eu disse galo, não disse cigarra, essa certamente já
a ouviu, porque elas só cantam com o sol em pleno.
Era precisamente à hora que os galos cantavam no verão
entre as 4,30 horas e as 5,00 da manhã que ele se levantava para ir trabalhar.
Levava no alforge um bocado de pão, azeitonas, toucinho ou chouriço, quando o
havia e iniciava mais um dia de calvário calcorreando cerca de 2 léguas a pé
para chegar à Quinta de São Pedro, onde trabalhava.
Chegado ali, dirigia-se às cavalariças para aparelhar as
mulas, dar-lhes de beber e alguma ração e em seguida iniciava os trabalhos
consoante a época do ano e que consistiam, em lavrar e arar a terra, semear, mondar,
ceifar, debulhar as sementes e muitos outros serviços inerentes à atividade
agrícola.
O Senhor Ministro antes de dizer aquelas “palermices” tem
consciência do que é estar à boca de uma debulhadora ou a ceifar sob o tórrido
sol do Alentejo? Eu respondo por si; não tem porque o Senhor nasceu em berço de
ouro.
Quando o sol desaparecia no horizonte, no verão cerca das
21,00 horas, dirigia-se às cavalariças, desaparelhava o gado, dava-lhes água,
palha e ração e regressava a casa, muitas vezes debaixo de grandes intempéries
(isto no inverno, como é óbvio), atravessando ribeiras e trilhando caminhos cheios
de lama, muitas vezes às escuras e com um feixe de lenha às costas para os
filhos se aquecerem no inverno. Ceava qualquer coisa e deitava-se mais morto do
que vivo, porque muitos dias não conseguia dormir com as dores que sentia no
corpo.
O Senhor imagina o que é fazer este ritual todos os dias
do ano, praticamente sem um dia de descanso a não ser no dia de festa da
aldeia, sim, porque neste tempo não havia feriados, nem fins-de-semana.
Tudo isto para trazer para casa uma jorna de 105 escudos
por semana, correspondente a 7 dias a 15 escudos diários.
Depois do meu pai
chegar a altas horas da noite a minha mãe ia à mercearia do Sr. Silvério, pagar
o avio da semana para poder trazer o outro para a semana seguinte, porque se
não o fizesse não havia seguinte.
O Senhor Ministro comeu alguma vez pão com 8 dias ou
mais?
Com certeza que não porque o Senhor nunca comeu o pão que
o diabo amassou, como diz o povo do qual se arvora em defensor.
O Senhor alguma vez ouviu falar nas cadernetas de racionamento?
Certamente pensará que estou a ironizar. Não estou não
senhor. Não se trata de uma caderneta de cromos era um livrinho que foi
distribuído às famílias para controlar o consumo a que estavam autorizados e
obrigados ao tempo.
Sabe o Senhor Ministro o que é que esta formiga amealhou
durante os anos em que viveu e tanto se sacrificou? Eu digo-lhe, miséria e
fome, tal como alguns milhões que o senhor infelizmente apelida de cigarras.
Sabe qual foi a escolaridade dos meus irmãos? Nenhum
chegou à 4.ª classe, porque tiveram que ir guardar porcos e trabalhar no campo
para minorar a pobreza do agregado familiar.
Agora espero que tenha compreendido na verdadeira aceção
da palavra, o papel da formiga, comento o papel da outra interveniente na
fábula.
A cigarra é o Senhor que está no governo e muitos outros
que por lá têm passado que conduziram o País à miséria e quase à bancarrota,
arvorando-se em defensores dos desprotegidos e dos mais pobres, que são afinal
as únicas vítimas da crise e dos desmandos que os senhores estão a praticar e
praticaram.
A cigarra são os senhores bem-falantes que estão na
Assembleia da República, com bons vencimentos, mordomias e privilégios que
ninguém tem, que se intitulam defensores do povo. Qual povo, qual carapuça, os
senhores são é defensores dos “tachos” quando aí estão e quando saem para a
vida privada. Afirmam muitos que para servir o País e a bem de Portugal, estão
a perder dinheiro.
Como tenho pena dos “coitados”. Porque não experimentam
viver com o salário mínimo nacional durante uns anos? Porque não têm a reforma
só aos 65 anos como a maioria dos portugueses, aqueles que apelidam de
cigarras?
A cigarra leva a vida a cantar é o que vocês fazem
tentando adormecer os portugueses. Cuidado que eles estão a despertar e o
feitiço pode voltar-se contra o feiticeiro e de repente o tapete desaparece
debaixo dos vossos pés e ainda podem vir a ser responsabilizados pelo mal que
têm feito a este triste País.
Levam uma vida faustosa e de luxúria com bons carros,
motoristas, grandes banquetes e sabe-se lá mais o quê e ainda têm o
descaramento de chamar “cigarras” aos desgraçados que têm espoliado
escandalosamente, contrariando inclusive a própria Constituição da República.
Os Senhores foram mandatados para nos governar, não para nos “desgovernar”.
Sabe o Senhor Ministro porque temos muitas cigarras e
poucas formigas, eu explico:
Porque os senhores são muitos e para cúmulo mandaram
quase um milhão de formigas para o desemprego e para a miséria. Foram os
senhores e os vossos antecessores, que mercês das vossas políticas desastrosas
acabaram com o aparelho produtivo do País.
Foram os políticos que estiveram nos sucessivos governos
que, escudados na obrigatoriedade de cumprirem diretivas emanadas da União
Europeia, acabaram com a agricultura, com as pescas e outras atividades que
eram o sustentáculo da produção nacional ao ponto de não sermos mais
autossuficientes em alguns produtos.
O Senhor Ministro lembra-se ou alguma vez viu os campos
verdejantes do Alentejo cobertos de trigo, cevada, grão, milho e outros
cereais? Lembra-se de campos cobertos de papoilas e malmequeres?
Sabe o que vejo atualmente nesses campos outrora
verdejantes e cultivados?
Vejo-os ao abandono e desertificados.
Triste realidade a que nos conduziram. Houve evolução
depois do 25 de Abril, houve sim senhor. O País melhorou em muitos aspetos;
melhorou sim senhor. Piorou noutros; piorou.
Deixou de haver respeito e palavra de honra, não se
respeitam as autoridades, as instituições, os professores, os mais velhos e
quanto à palavra de honra à gente que não sabe o seu significado, incluindo os
políticos do seu governo que hoje dizem uma coisa e amanhã outra. Diz-se que
navegam à vista, eu, diria navegam ao sabor das correntes, isto é, dos seus interesses.
É por causa das vossas políticas que as empresas abrem
falência diariamente e são mandados para o desemprego milhares de portugueses
que vão engrossar o número das “cigarras”.
O mais grave é que teimosamente os senhores não
reconhecem os vossos erros.
A seu tempo o Imperador Napoleão Bonaparte censurou um
dos seus generais de brigada e disse-lhe o seguinte:
“Junot o mal não está no erro, está na persistência do
erro”
Este recuou na sua estratégia. Os senhores também recuam
para depois investirem de forma mais austera, tendo sempre como destinatários
os mais desfavorecidos e aqueles que trabalham.
Em suma, sempre os mesmos.
Dizem as cigarras estar preocupadas com a justiça, com a
corrupção, com a fuga ao fisco e muito mais. O Dr. Paulo Morais, sabe e disse-o
na televisão e numa entrevista no Correio da Manhã, onde está instalada a
corrupção. Porque não lhe perguntam?
Certamente que ele vai colaborar e eu também, dizendo que
estão instalados na Assembleia da República que é afinal o centro de todas as
decisões.
Os lobby’s e os interesses instalados não abdicam dos
seus privilégios e assim torna-se muito difícil tomar medidas estruturais.
Os problemas de Portugal além de estruturais são
económicos. Se não produzimos, não exportamos e diminuímos o consumo interno.
Diminuindo o consumo interno asfixiamos o mercado
nacional e somos obrigados a importar, fator que implica o agravamento da nossa
balança comercial.
Deixo estas apreciações aos senhores economistas que tudo
sabem, mas, que raramente estão em sintonia com as causas com que nos
debatemos.
Não vou alongar-me
mais Senhor Ministro, apesar de ter muito para lhe dizer. Quando assisto aos
debates na Assembleia da Republica, quase sempre nas vossas interpelações, oiço
alguns gracejos, pelo que não devo bater-lhe mais, para não o deixar cheio de
nódoas negras, mais, do que aquelas que já tem com a sua atuação que espero em
breve ver julgada pelos portugueses.
O Senhor Ministro sabe a tristeza que eu sinto, quando
perpasso o olhar pelo hemiciclo e oiço os senhores falarem em sacrifícios que
os portugueses precisam de fazer para sair da crise e vejo um grupo de “emproados
e anafados deputados”, defendendo as suas damas e acusando-se uns aos outros.
Sim porque a culpa é sempre dos outros.
Senhor Ministro depois de ter ofendido a maioria dos
portugueses que o elegeram, sugiro-lhe que se demita ou apresente a todos as
suas desculpas, dizendo que as suas palavras foram deturpadas e foram
reproduzidas fora de contexto? Aliás o final da sugestão é o que normalmente
acontece quando os governantes metem “a pata na poça” como diz o povo.
Reconhecer os erros é humildade, precisamente o contrário de arrogância.
Ouso perguntar-lhe se já viu a foto da menina que na
manifestação de 19 do corrente junto ao Palácio de Belém, está a abraçar um polícia
e que está a correr mundo nas redes sociais?
Se ainda não viu; veja que é elucidativa. Espero que o
pobre coitado não seja castigado, pois, apesar de ter muita vontade, não
esboçou sequer um sorriso apesar de a garota ser linda e muito ternurenta.
Penso que o elucidei sobre a verdadeira essência da
fábula acima descrita para que não cometa mais “argoladas”
Reitero os meus cumprimentos,
a) Joaquim
Amaro
B.I. 1346083
Nota - Esta carta respeita as normas do novo
acordo ortográfico.
COM
CONHECIMENTO: Aos Grupos Parlamentares do P.S.D. / P.S. / C.D.S./P.P. / P.C. /
B.E. E P.E.V..
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