domingo, 9 de janeiro de 2011

O MENINO DO RESTAURANTE - A realidade

> Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem
> afastada do movimento, porque queria aproveitar os poucos minutos que
> dispunha naquele dia, para comer e acertar alguns bugs de programação num
> sistema que estava a desenvolver, além de planear a minha viagem de férias,
> coisa que há tempos que não sei o que são.
>
>
> Pedi um filete de salmão com alcaparras em manteiga, uma salada e um sumo de
> laranja, afinal de contas fome é fome, mas regime é regime não é?
>
>
> Abri o meu portátil e apanhei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
>
>
>
> - Senhor, não tem umas moedinhas?
> - Não tenho, menino.
> - Só uma moedinha para comprar um pão.
> - Está bem, eu compro um.
>
> Para variar, a minha caixa de entrada está cheia de e-mail.
> Fico distraído a ver poesias, as formatações lindas, rindo com as piadas
> malucas.
> Ah! Essa música leva-me até Londres e às boas lembranças de tempos áureos.
>
> - Senhor, peça para colocar margarina e queijo.
>
> Percebo nessa altura que o menino tinha ficado ali.
>
> - Ok. Vou pedir, mas depois deixas-me trabalhar, estou muito ocupado, está
> bem?
>
> Chega a minha refeição e com ela o meu mal-estar. Faço o pedido do menino, e
> o empregado pergunta-me se quero que mande o menino ir embora.
>
> O peso na consciência, impedem-me de o dizer. Digo que está tudo bem.
> Deixe-o ficar. Que traga o pão e, mais uma refeição decente para ele.
>
> Então sentou-se à minha frente e perguntou:
>
> - Senhor o que está fazer?
> - Estou a ler uns e-mail.
> - O que são e-mail?
> - São mensagens electrónicas mandadas por pessoas via Internet (sabia que
> ele não ia entender nada, mas, a título de livrar-me de questionários
> desses):
> - É como se fosse uma carta, só que via Internet.
> - Senhor você tem Internet?
> - Tenho sim, essencial no mundo de hoje.
> - O que é Internet ?
> - É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas,
> notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar,
> aprender. Tem de tudo no mundo virtual.
> - E o que é virtual?
>
> Resolvo dar uma explicação simplificada, sabendo com certeza que ele pouco
> vai entender e deixar-me-ia almoçar, sem culpas.
>
> - Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos tocar, apanhar,
> pegar... é lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer.
> Criamos as nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos
> que fosse.
> - Que bom isso. Gostei!
> - Menino, entendeste o significado da palavra virtual?
> - Sim, também vivo neste mundo virtual.
> - Tens computador?! - Exclamo eu!!!
> - Não, mas o meu mundo também é vivido dessa maneira...Virtual.
> A minha mãe fica todo dia fora, chega muito tarde, quase não a vejo,
> enquanto eu fico a cuidar do meu irmão pequeno que vive a chorar de fome e
> eu dou-lhe água para ele pensar que é sopa, a minha irmã mais velha sai todo
> dia também, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, porque ela volta
> sempre com o corpo, o meu pai está na cadeia há muito tempo, mas imagino
> sempre a nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos
> de natal e eu a estudar na escola para vir a ser um médico um dia.
> Isto é virtual não é senhor???
>
> Fechei o portátil, mas não fui a tempo de impedir que as lágrimas caíssem
> sobre o teclado.
>
> Esperei que o menino acabasse de literalmente 'devorar' o prato dele,
> paguei, e dei-lhe o troco, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros
> sorrisos que já recebi na vida e com um 'Brigado senhor, você é muito
> simpático!'.
>
> Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que
> vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e
> fazemos de conta que não percebemos!
>
> Agora, tem duas escolhas...
> 1. Enviar esta mensagem aos amigos e amigas ou 2. Esquece-la, fingindo que não foste tocado por ela!!!

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